
A minha vida se resume a uma larga e sinuosa curva para o amor.Começando por um caminho longo até Moscovo. Não vos contarei todos os detalhes dessa viagem. Houve outras, também importantes, houve mesmo muitas viagens. Mas essa primeira viagem em arco amplo e súbitos desvios demorou mais, começou na Huíla, Sul de Angola, quando fui parido.Nasci no meio de rochedos. A casa, porém, era de adobe. Casa de adobe com rochedos à volta. Título de quadro? Era muito duro fazer uma casa de pedra, como na aldeia de Trás-os-Montes onde o meu pai tinha nascido. A minha mãe era já de algumas gerações huilanas e nascera numa mais pequena que a nossa. Por isso se construiu a de adobe, quando casaram. Os dois, com a ajuda de um serviçal muíla, chamado Kanina, nome de soba grande, ergueram a moradia, usado o barro de uma baixa sempre húmida para fazerem blocos secos ao sol. Primeiro teve campim como cobertura. Depois chapas de zinco. Finalmente telhas.Houve progresso.Nasci na fase intermédia, das chapas de zinco. Nado capim tinha nascido a Olga, minha irmã mais velha. Depois, já na de telhas, nasceram o Zeca e o Rui, meus mais novos. Só eu tive direito, ao ser atirado para o mundo, a ouvir chuva batendo em chapas de zinco.»
Do encontro entre um estudante angolano e uma jovem mongol, nos anos 60, em Moscovo, nasce um amor proibido. Baseada em factos verídicos, ficcionados pelo autor, esta história põe em evidência a vacuidade de discursos ideológicos e palavras de ordem, que se revelam sem relação com a prática. Política internacional, guerra, solidariedade e amor, numa rota que liga um ponto perdido de África a outro da Ásia, passando pela Europa e até por Cuba. Uma viagem no tempo e no espaço, o de uma geração cansada de guerra num mundo cada vez mais pequeno. Maravilhoso e comovente, este é um romance sobre o triunfo do amor, contra todas as vontades e todas a fronteiras.
Sessão de leitura do novo romance de Pepetela – O Planalto e a Estepe –, na Livraria Pó dos Livros, na segunda-feira, dia 27 de Abril, às 18.30 horas.