sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Aquela Angola

Hoje quando ia a caminho do IPO para a fisioterapia, ouvi uma música na RDPAFrica, que me fez recordar muita coisa dos meus tempos de infância e não só. A música está depois do texto (com algumas imagens de Luanda que acrescentei), é um semba (estilo musical angolano) cantada por dois grandes cantores de Angola: Paulo Flores e Carlos Burity. Pois é, voltando às recordações, viajei no tempo, voltei há uns 15-20 anos, e recordei as chamadas "festas de contribuição". Eram festas feitas essencialmente em quintais, em que cada um contribuia com alguma coisa. Geralmente, as mulheres tratavam da comida e os homens da bebida. As famílias juntavam-se no quintal, punha-se música e farravámos pela noite dentro. Naquele tempo (anos 80), havia recolher obrigatório, ou seja, era proibida a circulação de pessoas entre as 24 e as 6 da manhã, e por essa razão, essas festas começavam um pouco antes da meia noite e iam pela noite dentro. Talvez por isso, até hoje, as festas começam sempre tarde! Habituámo-nos a isso!
Mas não havia festas de contribuição apenas com mais velhos. Nós, os miúdos também organizavámos as nossas festas. Lembro-me tão bem disso, com a organização a dividir a multa (o que cada um levava) pelas pessoas, e como quase sempre, com os meninos encarregados pela gasosa. Na maior parte das vezes, eu levava enroladinhos de chouriço, feitos por mim. Os meus pais levavam-me um pouco antes da meia noite e às 6 da manhã, lá estavam novamente eles.
Eram tempos complicados, com muito pouca coisa (e agora se calhar menos!), mas mesmo assim, havia sempre disposição e vontade para juntar o que fosse e fazer a festa. Naquele tempo as pessoas estavam mais disponíveis para os outros, talvez... alguma coisa mudou na sociedade angolana (e não só) e estes pequenos convívios têm vindo a desaparecer, com muita pena minha.
Das festas de contribuição, resta-me a saudade... Saudades de tantas coisas: de brincar na rua e ficar toda encardida e apanhar um bafo da minha mãe (os meninos agora não têm rua para brincar, tá cheia de carros!), de descer pela barroca com as minhas amigas Bela e Solange, de fazermos uma festa na rua no dia do natal. Sim, é verdade, depois da meia noite (já foi depois da altura do recolher) faziamos uma festa na rua, com direito a música e iluminação. Bons tempos que não voltam, mas que me considero uma felizarda por os ter vivido, felizarda por fazer parte da geração pós independência, altura em que os nossos pais tinham muita esperança no futuro e transmitiram-nos essa esperança, a amor pela bandeira e pelo país.
E como sou optimista, continuo a acreditar em Angola e nos angolanos!


Tenham um óptimo fim de semana e muitos beijos!


5 comentários:

Nela disse...

É linda, a tua terra! Com estas tuas memórias e com um excelente futuro, espero que sejas muito feliz lá. E que não te esqueças destas portugas aqui...

Jinhos

Alda disse...

Boa música que me faz gingar! Angola é linda, acredita que tudo pode mudar!
Beijinhos

IsaLenca disse...

Gostei de ler este teu post e...ao mesmo tempo... também me fez recuar, muitos mais anos, sobretudo por falares em recolher obrigatório. Era míúda (12 anos)quando vim, em finais de Agosto 75 (a Independência foi logo a seguir, a 11 de Novembro), mas lembro-me de tudo muito bem. Só que infelizemnte ainda me lembro mais da guerra (ter de fugir do Norte, Negage, para Luanda) e do recolher obrigatório às 21h00 (Luanda). Depois a música era outra - tiros, basucadas, às 04h00 terminava e só se ouviam as ambulâncias e os cães a uivar.
É tão bom quando, como vocês, conseguem apesar de tudo, aproveitar todos os óptimos momentos. Agora, é evidente que as coisas estão mudadas, e coisas boas já estão a começar a aparecer, mas a maneira de ser das pessoas alterou-se. Penso que até é normal, dadas as circunstâncias de uma longa guerra de 44 anos.
Tenho lá um tio e um amigo meu parte na próxima semana para Luanda (os irmãos já lá estão há uns anos largos)pois tem lá uns negócios.
Quero muito que realmente Angola melhore e consiga desenvolver-se.
E eu gostava de lá ir- mostrar os locais onde nasci (Luanda, na Maternidade, na altura chamava-se Sagrada Família), onde cresi e brinquei : Negage, Carmona, Moçamedes... Quando puder visitar, sem problemas esses locais pensarei em ir. E agora então com tantos amigos lá...vou ter mesmo de pensar em fazê-lo.

Bjs. grandes

Anónimo disse...

Olá linda.

A tua cidade é linda e acredito que ainda vai ficar muito mais!
Adorei ir lá, adorei aquele sol, aquele ar e principalmente aquela música durante toda a noite principalmente no fim de semana.

Passei horas na janela do meu quarto a ver uma dessas festas de quintal... que dizer? Lindo!Lindo! Lindo!

Beijos e até sábado!


Tila

Anónimo disse...

Olá linda.

A tua cidade é linda e acredito que ainda vai ficar muito mais!
Adorei ir lá, adorei aquele sol, aquele ar e principalmente aquela música durante toda a noite principalmente no fim de semana.

Passei horas na janela do meu quarto a ver uma dessas festas de quintal... que dizer? Lindo!Lindo! Lindo!

Beijos e até sábado!


Tila